A Tropicadelia já passou pelo blog algumas vezes, recentemente
lançou um EP cheio de significados e que com certeza nos fez olhar de forma diferente para o futuro. Formada por Fernando Kid (guitarra e voz), Eduardo Martinez (baixo e voz) e Renan Augusto Dias (bateria e voz), a banda fez uma seleção dos melhores álbuns de 2020, se baseando na crítica e naquilo que eles gostam de ouvir. Originalmente, a lista saiu o IGTV (
@tropicadelia) e hoje vamos abrir esse espaço para que eles também conversem com vocês e mostrem a lista dos melhores discos do ano. Então, aproveitem e não se esqueçam de salvar as dicas no Spotify.
Com a palavra, Tropicadelia:
OS MELHORES DISCOS DE 2020, pela Tropicadelia
Não cansamos de frisar, mas caso alguém esteja vivendo uma ilusão a lá WandaVision, é importante relembrar que o mundo tá uma bagunça. E, apesar dos pesares, algumas das poucas coisas boas que rolaram no ano passado foi uma das maiores faunas musicais dos últimos tempos. Claro, poderia e deveria ser bem melhor, se o cenário fosse outro. Mas é por todos os percalços que cada uma dessas obras merece ser ressaltada. Aqui escolhemos os nossos preferidos, não necessariamente em uma ordem ou ranking. Tem obviedades e surpresas. E muita música boa. Esperamos que curtam a lista e, caso tenham interesse, deem uma escutada se caso algum desses citados não seja de seu conhecimento. Garantimos, ao menos, que sua curiosidade será sanada em grande estilo. Nessa lista temos as opiniões de Eduardo Martinez, baixista da banda, e também de Renan Augusto Dias, o baterista. Vamos lá!
Luedji Luna – Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água (ouça) Depois de seu disco de estreia em 2017, Luedji Luna já era uma artista que vinha conquistando seu espaço a passos largos. Antes mesmo de ser lançado, “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água” já era uma aposta alta para 2020. Não decepcionou. Pelo contrário, Luedji superou as expectativas com um álbum sofisticado, mas sem perder a urgência e o aprofundamento em temas como machismo e racismo.
- Eduardo Martinez
Kiko Dinucci – Rastilho (ouça) Seja no violão ou na guitarra, o estilo do Kiko Dinucci é marcante desde sempre. Em todos os projetos que participa é sempre visível sua marca no som. Em “Rastilho” essa personalidade toda aparece latente e mais poderosa do que nunca. Seja nas faixas instrumentais ou nas cantadas por ele ou por convidados (Ava Rocha, Rodrigo Ogi, Juçara Marçal), o disco parece um caldeirão prestes a explodir, tanto na sonoridade tensa quanto em vários temas (igualmente tensos) por onde as músicas passam. - Eduardo Martinez
Tagua Tagua – Inteiro Metade (ouça) Se a categoria ‘revelação’ fosse algum dos braços da lista, o primeiro álbum do projeto encabeçado por Felipe Puperi certamente brigaria forte pelo troféu. O gaúcho era um dos membros do grupo indie Wannabe Jalva, que já foi line up de grandes festivais país afora. Sozinho, ao menos teoricamente, Felipe conseguiu juntar algum restolho de referência da sua antiga banda, colocou suingue e um naipe de sopros, embebedados numa poça de reverb. Como disse antes, é como se o Foster The People nascesse no Rio de Janeiro. Não teria como ser ruim. - Renan Augusto Dias.
Pelé do Manifesto – Gueto Flow Preto Show (ouça) Não é apenas rap. Já seria bem bom se fosse apenas rap. Mas não é só isso. Tem hip hop, disco, baladas românticas e rock’n roll. E o mais importante: Orgânico. E notável que o instrumental é realmente gravado por uma banda, o que deixa a poesia ainda mais evidente. Poesia marginal, necessária e sem rodeios, aliás. Por tratar de assuntos que, infelizmente, Pelé sentiu na pele, sua fala transborda verdade. O álbum ainda tem as participações mega agregadoras dos refrões de Luê, Malu Guedelha e Marisa Brito. Que obra! - Renan Augusto Dias
Pedro Pastoriz – Pingue Pongue Com o Abismo (ouça) Pedro Pastoriz faz parte do Mustache e Os Apaches, mas por aqui chega com o seu terceiro disco solo. Em um álbum onde a temática é a repetição, a irreverência e a melancolia andam juntas de uma forma que pode até causar estranhamento a princípio, mas quando bate... Não tem mais volta. É um álbum para se ouvir do início ao fim, fazendo conexões, se divertindo, se emocionando e entrando nesse universo peculiar que é o “Pingue-Pongue Com o Abismo”. - Eduardo Martinez
Como é bom ver uma lista repleta de novos artista ter seu representante do rock clássico brasileiro, especialmente de uma banda oitentista que sobreviveu ao conservadorismo barato. E com esse disco, aliás, o Ira! fala bastante sobre temas necessários, com um polimento que não soa como fugir da raia, e que tem mais a ver com ‘fazer caber na música’. Em faixas como “Mulheres a Frente da Tropa”, experimentos com violões e corais. Em “Você me Toca”, um claro revival aos tempos de ouro do grupo. O disco é uma viagem, e vale a passagem! - Renan Augusto Dias
Djonga – Histórias da Minha Área (ouça) Djonga já é um dos maiores nomes do rap brasileiro da atualidade. O Rapper mineiro lançou em 2020 seu quarto disco onde manteve a crescente que vem desde o debut. Nesse mesmo ano foi o primeiro brasileiro indicado ao Bet Hip Hop Awards, uma das mais respeitadas premiações de rap do mundo. O disco é uma metralhadora de pensamentos bem sacados, beats densos e apontamentos pra vários lados, rap mais tradicional, trap... Mas tudo soando coeso e coerente. - Eduardo Martinez
Sepultura – Quadra (ouça) Apesar da banda ter maior notoriedade em solo estrangeiro, não deixa de ser um disco nacional. E vindo da banda que é, não teria como ficar de fora da lista. O Sepultura dispensa apresentações, mas quem precisa ser apresentado é o monstro Eloy Casagrande. O jovem baterista desenferrujou a banda e trouxe um peso complexo, que há muito não ouvíamos. Não é só rapidez. É rapidez bem distribuída. E, sem novidade, o álbum foi o primeiro em algumas listas de nível mundial. Merecido, claro. Destaque para a participação de Emily, da banda Far From Alaska, na última faixa. - Renan Augusto Dias
Letrux – Letrux Aos Prantos (ouça) Depois do elogiadíssimo “Letrux em Noite de Climão”, “Letrux Aos Prantos” é meio que o pós-balada. É quando vem a ressaca moral, a reflexão. Mesmo que ainda haja o que dançar, ou o que rir de si mesmo, a melancolia ainda brilha mais forte. Sentimento reforçado pela sonoridade, algo entre eletro pop, meio anos 80, até um pouco pós-punk. - Eduardo Martinez
Sound Bullet – Home Ghosts (ouça) Sound Bullet é uma banda do Rio de Janeiro que vimos de perto uns anos atrás. Com a outra banda que fazemos parte, a Código de Conduta, disputamos a final do EDP Live Bands com eles em 2018. Merecidamente venceram o concurso e ganharam o lançamento de um disco pela Sony. Eis que em 2020 chegou “Home Ghosts”. O indie rock que vimos no palco do Bourbon Street ainda está ali, mas com uma forte baforada de post-rock, math-rock e uma fundamental pitada de neo-soul. E tudo isso faz sentido lindamente no disco. - Eduardo Martinez
Marcelo D2 – Assim Tocam os meus Tambores (ouça) Desde o “Amar é Para os Fortes”, D2 tem apostado na finesse. Começar como rapper e fazer alguns mergulhos nada rasos no samba de raiz trouxe ao ex Planet Hemp uma fórmula que não lhe permitia fazer trabalhos ruins. Em “Assim Tocam os Meus Tambores”, o cara trouxe musicalidade ao rap. Refrãos marcantes, samplers lindos e participações pra lá de especiais. Se ouvido inteiro, o conceito fica ainda mais claro. É o nosso Kendrick Lamar! (Ou o Lamar é o D2 deles?). - Renan Augusto Dias
Wry – Noites Infinitas (ouça) O Wry é uma lenda do underground nacional. Quando eu descobri que existia uma cena independente incrível no Brasil (faz um bom tempo) a banda já tinha um nome consolidado no indie br. Em “Noites Infinitas”, está tudo ali: indie, shoegaze, pós-punk... Sem aquele peso de reinventar a roda, (coisas que a maturidade traz) mas tudo no lugar da melhor forma possível. - Eduardo Martinez
Julico é o vocalista e guitarrista do The Baggios. No disco de 2020 aquela força blues rock guitarreira da sua banda “titular” ainda está ali, mas com um tempero soul que faz toda diferença. Agrada tanto os fãs de Baggios como traz gente nova pra ouvir e curtir. - Eduardo Martinez
Lucas Gonçaves – Se Chover (ouça) Que a Tropicadelia se esbalda de uma fonte chamada Maglore, todos sabemos. E nesses últimos anos, seus membros tem apostado em trabalhos solos, que são igualmente bem feitos. Em 2019 nasceu o incrível álbum de Teago Oliveira e em 2020 fomos agraciados com a doçura de Lucas, com letras singelas e melodias que nos levam direto a Lô Borges, Milton Nascimento e o Clube da Esquina. Impossível não fazer a comparação. E assim como qualquer álbum do Clube entraria em qualquer lista do mundo, esse também está. - Renan Augusto Dias
Zé Manoel – Do Meu Coração Nu (ouça) “Do Meu Coração Nu” já abre com “História Antiga”. Música que traz frases como: “Houve um tempo em que a canção não impedia mais um jovem negro de morrer por conta da sua cor/Uma história tão antiga em 2019/De uma civilização antiga em 2019”. Bom, se isso não te toca de alguma forma, te aconselho a não só não continuar ouvindo o disco, como indico procurar um cardiologista, porque algo não vai bem aí no meio do peito. - Eduardo Martinez
Tropicadelia – Não Acabou (ouça) Hahahahahahaha! Mas, apesar da brincadeira, o nosso EP também foi um dos lançamentos de 2020. Se merece estar na sua lista, não sei. Mas se quiser tirar a prova, escute “Não Acabou” em sua plataforma de streaming preferida! Foi feito com muito carinho e suor. O Leia Pop, portal em que você está agora, fez uma resenha mega legal do trabalho! Você pode ler tudo clicando aqui.
Nós fizemos uma playlist no Spotify com uma faixa representante de cada álbum aqui citado. São músicas que nós acreditamos resumir bem toda a atmosfera dos trabalhos. Se quiser sentir o drama da lista “tudo de uma vez”, é uma boa porta de entrada. Você pode ouvi-la
clicando aqui. Aproveite e nos siga na sua plataforma preferida! Isso ajuda muito.
Esperamos que tenham gostado e que isso, de alguma forma, tenha te apresentado algo novo. Estamos entrando num novo ciclo que esperamos muito que seja menos tortuoso que o último. Por mais difícil que seja ser pior que o ano passado, não vamos dar sorte pro azar. Então, achamos que um pouco de música boa e diferente pode dar mais luz nessa nova empreitada. Obrigado, Leia Pop, pelo espaço! <3