Resenha: A Justiça Chama

Título: A Justiça Chama (Magia em Jogo - Vol. 1)
Autora: Annie Bellet
Editora Avec
Páginas: 120


A Justiça chama é um livro curto de fantasia urbana que introduz uma série conhecida como Magia em Jogo, composta por 10 livros. É nesse volume que conhecemos Jade Crow, a dona de uma loja de quadrinhos e games que se esforça para viver uma vida tranquila enquanto seu mundo cheio de seres sobrenaturais e metamorfos colidem com o mundo comum.

Jade é uma feiticeira e também é uma fugitiva. Ela vive sempre alerta, sempre em atenção e usa a vida com seus amigos metamorfos para não ser localizada por um poderoso feiticeiro que quer devorar seu coração. O mesmo feiticeiro na qual ela teve um relacionamento uma vez.

"Os momentos mais transformadores da vida são uns canalhas sorrateiros. Muitas vezes, demoramos a saber que nada mais será igual e só olhando para trás é que conseguimos dizer: olha lá! Foi isso que mudou tudo!"

Sua tranquilidade é abalada quando uma seita macabra começa a envolver seus amigos em perigo e um juiz metamorfo chamado Alek vem para investigar Jade e os acontecimentos. Entre ajudar seus amigos ou fugir de novo para sua segurança, Jade precisa decidir sobre sua vida e a intensa atração entre ela e Alek.

O livro é cheio de referência da cultura pop, Jade é nerd, gamer e usa todas essas referências para ter humor e quebrar a quarta parede como Deadpool, embora sua história e personalidade tenha muitas semelhanças com Jessica Jones.

" - Você não é uma bruxa.
- Você é excelente em frisar o óbvio."


É uma leitura rápida. Por ser curto os personagens mais fáceis de se compreender e se apegar acabam sendo Jade e Alek, os amigos dela são compostos por personalidades nerds, mas não consegui me conectar com nenhum deles, apenas rir com várias piadas e referências.

O único ponto negativo acaba sendo por ser curto não ter tempo para desenvolver mais os personagens, mas a narrativa e a personalidade de Jade acabam fazendo esse livro ser muito bom e com certeza estou ansiosa para conhecer o resto da jornada.



Vanessa de Oliveira
Instagram@nessagsr

Tudo e Todas as Coisas: o amor pode ser simples

Baseado no livro de Nicola Yoon, Tudo e Todas as Coisas (Everything Everything) foi dirigido pela Stella Meghie e lançado em 2017. Mas acredite se quiser, eu descobri essa obra esse ano, mais especificamente na semana passada. O filme nos traz a história de Maddie (Amandla Stenberg), uma jovem que sofre de uma doença rara, a Síndrome da Imunodeficiência Combinada, e por isso não pode colocar os pés fora de casa. O ar, sua roupa, comida, tudo pode ser motivo de uma complicação mortal para ela. Ela recebe muitos cuidados de sua mãe, Pauline (Anika Noni Rose), que além de médica, adaptou toda a casa para o bem estar da protagonista. 

A vida monótona de Maddie começa a ficar interessante quando vizinhos novos se mudam para casa ao lado. No descarregamento da mudança, que Maddie observa da janela do seu quarto, ela cruza o olhar com Olly (Nick Robinson). Um jovem que mostra um olhar doce logo na primeira cena, mas como previsto, eles não podem ter um contato muito além disso, e uma comunicação através da janela do quarto inicia. Olly na casa dele e Maddie na dela. 

Não muito depois, os dois começam a trocar mensagens pelo celular, até que Maddie tenta convencer a sua enfermeira, Carla (Ana de la Reguera), de deixá-la ter um encontro escondido com Olly enquanto sua mãe está no trabalho, com o distanciamento necessário. Carla se deixa convencer e os dois se encontram, com muita timidez eles conversam e a partir desse momento eu pude sentir que a ligação dos dois personagens começa a ficar mais intensa. 
Ultimamente eu tenho procurado muito por filmes desse gênero, principalmente nos dias de mais ansiedade. Com eles eu não tenho o compromisso de entender absolutamente tudo e os finais me fazem lembrar que a vida pode ser leve e o amor simples. Essa obra me pegou nos detalhes, Maddie e Olly acabam tendo um relacionamento a distância, mesmo sendo vizinhos. As barreiras causadas pela doença de Maddie me fez refletir sobre como as pequenas coisas do nosso dia a dia são valorizadas quando não as temos. Aliás, estamos passando por isso agora por causa da pandemia e a gente sente como faz falta poder sair na rua sem medo e poder curtir uma noite de sábado com os amigos. Maddie vive isso desde que se entende por gente e essa não é a vida mais feliz que alguém poderia ter.

Como eu disse acima, Maddie e Olly trocam mensagens pelo celular e eu achei muito interessante como essas conversas são colocadas no filme. Visto que Maddie é boa em imaginação, na hora da conversa virtual, os dois personagens são colocados frente a frente em cenários que Maddie gostaria de estar. Além de ser um jeito dinâmico de direcionar as falas, essa sacada fez com que o filme não ficasse maçante, já que Maddie nunca saía da sua casa. Eu não sei como isso é colocado no livro porque não li, então não posso fazer comparações, mas eu realmente adorei essas cenas.

Agora, como explicar o amor que vai se desenvolvendo de forma espontânea entre Olly e Maddie? A cada encontro você percebe que os dois vão se tornando muito próximos e é difícil não querer que o filme só mostre os dois o tempo todo. O amor aqui tem gosto de simplicidade e é natural, sem interferências externas, coisa que é muito esperada em histórias Y.A. E quando eu digo interferência externa, me refiro àquele adolescente que serve de antagonista e interfere na vida dos mocinhos, como acontece em "A barraca do beijo" e "Para todos os garotos que já amei". Tudo e Todas as Coisas nos traz um romance mais centrado nos poucos personagens que aparecem. E no fim das contas é isso, o amor é simples quando nos deixamos levar por um sentimento verdadeiro e doce. O enredo vai nos trazer algumas reviravoltas também, situações que serão decisivas para vida do casal.

Quero dar destaque ao papel da mãe de Maddie, Pauline, ela é uma mulher negra que passou por momentos muito difíceis. Pauline perdeu o marido e o seu primeiro filho em um acidente, e Maddie foi tudo o que lhe restou. Apesar de ser importante para a história, ela não aparece muito e mesmo assim, ela é uma personagem que dá para explorar os aspectos de seu comportamento. Outro ponto interessante do filme é a fotografia. Por causa da doença, Maddie está sempre rodeada de um cenário "clean", mas com a chegada de Olly os cenários começam a ganhar cores vivas, como o amarelo, vermelho, azul, rosa... Na minha concepção, como telespectadora, as cores representam uma vida menos solitária para Maddie e um novo olhar em relação ao mundo e suas minúcias. 

Se você está em busca de um romance leve e sem nenhum compromisso, eu recomendo Tudo e Todas as Coisas, aliás, até o momento dessa postagem ele está disponível na Netflix. Já o livro, entrou para a minha wishlist.


Bruna Domingos
Instagram @brunadominngos

Short Term 12: Viver é aprendizado

Título Original: Short Term 12
Título no Brasil: Temporário 12 
Diretor: Destin Cretton
Roteiro: Destin Cretton


Sinopse: Grace é uma jovem conselheira em uma casa para adolescentes que vivem nas piores condições. Ela está pronta para se casar, mas, com as exigências do seu trabalho, toma decisões que podem arriscar sua carreira.


Short Term 12 é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Não é um filme com uma mensagem transformadora que te deixará em lágrimas no final, é um retrato real e íntimo sobre o passado e jovens que vivem a margem da sociedade. Nele somos apresentados a rotina de lares temporários para adolescentes em risco que sofreram algum tipo de abuso e estão lentamente aprendendo a viver de novo.

É aqui que conhecemos os supervisores do lar temporário 12, sendo Grace (Brie Larson) a chefe de todos. De adolescentes em fuga, verificação por objetos pontiagudos em seus quartos à crises emocionais esses supervisores são responsáveis por manter o lar em ordem e estabelecer uma conexão com esses jovens. Para Grace tudo está indo com a maré, até mesmo seu relacionamento com o supervisor Mason (John Gallagher Jr.).

Seu trabalho e seu relacionamento são a maior constante de sua vida. Enquanto ela é simpática e reservada, Mason é um homem engraçado e amoroso e os dois se complementam tanto no trabalho como casal, mas é visível que Grace está emocionalmente carregada com algo.

As feridas emocionais de Grace começam a se mostrar com a chegada de Jayden (Kaitlyn Dever), uma adolescente de 15 anos que é frágil e, ao mesmo tempo, está em constante batalha em se abrir para outras pessoas. Grace e Jayden se conectam instantaneamente. A saída de Marcus (Keith Stanfield) também desestabiliza o local e as conexões entre os adolescentes.

O passado de Grace vai se revelando aos poucos.

Na história principal de Grace somos conectados por sua relação com Jayden que empurra todos seus demônios para fora e sua relação com Mason que traz toda segurança, conforto, humor e amor para ajudar expulsar seus demônios. Todos os personagens ajudam carregar a trama e sentir a dor e amor com eles, seja de Marcus lutando com seu passado, Sammy (Alex Calloway) com sua relação com suas bonecas que se tornaram sua família ou mesmo Nate (Rami Malek), o novo supervisor apresentado com o espectador ao mundo desses adolescentes.

Destin Cretton, diretor e roteirista, disse em entrevistas que baseou o filme na época em que trabalhou por dois anos em instituição para adolescentes em risco.

Com um retrato real, engraçado e com uma luz de esperança, Short Term 12 é um embalo nas cicatrizes, conexões que fazemos ao longo da vida. Muito além, é um filme sobre o aprendizado do amor.



Vanessa de Oliveira
Instagram: @nessagsr

Resenha: Admirável mundo novo

Título: Admirável mundo novo
Autor: Aldous Huxley
Editora Globo
Páginas: 397

Neste livro a história se passa no ano de 632 d.F (depois de Ford), onde a ciência avança de forma absurda, a ponto das pessoas serem fabricadas em laboratório. O conceito de "pai" e "mãe" não existe mais, é algo ultrapassado e ofensivo. Os novos seres humanos tem seus comportamentos condicionados desde muito pequenos e seguem uma linha de pensamento que convém ao governo totalitário. Essa sociedade distópica é separada por castas: Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ípsilons. Os mais inteligentes, com os melhores cargos, são os Alfas, e o nível vai baixando até chegar nos Ípsilons, classe inferior, ocupada por pessoas em situações de carência, fabricadas para realizar trabalhos braçais. 

A civilização está organizada como o governo quer, não existe mais tristeza e nem exaustão. Se por um acaso algum sentimento negativo ameaça aparecer, ele é eliminado depois de ingerir um comprimido de Soma. Aliás, Soma é uma droga fornecida a todos para que a sociedade não se sinta infeliz e nunca entre em conflito, mantendo cada um no seu devido lugar. Está cansado? Toma soma. Está triste? Toma Soma. As coisas não estão saindo como desejado? Um pouco de Soma pode resolver. E assim, a avançada e tecnológica Londres segue em paz. Porém, há uma pessoa que não se sente tão bem com tudo isso, Bernard. Ele é um Alfa e sabe como o processo de condicionamento funciona dentro daquela sociedade, por isso, raramente toma o famoso comprimido, despertando assim uma consciência da realidade em que vive.

Apesar de se sentir um completo solitário, Bernard encontra companhia em Lenina, mesmo detestando seus comportamentos condicionados. Cansado de toda aquela rotina e depois de muito refletir, ele pede permissão para visitar a Reserva dos Selvagens. Um lugar onde vivem índios que não seguem o padrão de laboratório, pois são concebidos normalmente. Neste lugar distante, Bernard conhece John, um jovem com sangue da sociedade do admirável mundo novo, mas que vive como um selvagem.

Bom, a partir daqui a história recebe algumas reviravoltas e eu vou deixar a leitura para vocês.

Admirável mundo novo foi uma das leituras mais intensas que tive nesses últimos meses, Aldous Huxley cria um universo novo, mas que não está longe de comparações com o nosso atual momento. Nossa sociedade sempre passa por tentativas de controle, e o ponto chave para que uma civilização se condicione a fazer o que um Estado quer é influenciar no acesso ao conhecimento. É o que acontece em Admirável mundo novo, os administradores sabem que para o totalitarismo se manter, as pessoas precisam ser condicionadas a aceitar sua condição. Dessa forma, se cria a ilusão de que tudo está bem do jeito que está.

Nesse "novo normal", nada se recicla, afinal, para que reutilizar algo se eu posso comprar um novo?  Essa é a linha de pensamento imposta pelo totalitarismo. E as castas inferiores são condicionadas a odiar livro e qualquer fonte de conhecimento, pois ler é como perder um tempo que poderia ser gasto trabalhando ou consumindo. Admirável mundo novo não é algo tão distante da gente, assim como aquela civilização busca no Soma um jeito de se sentir em paz, estamos constantemente buscando algo que nos faça esquecer da dura realidade lá fora. E assim como no livro, somos separados por classes, e sabemos que quanto mais embaixo estivermos, menos alcançados seremos pelas políticas públicas.

Esse livro foi lançado em 1932 e se consolidou como um dos maiores clássicos da ficção científica. O autor brinca com diversas referências literárias, além de mexer com o nosso imaginário ao dividir a linha do tempo pelo nascimento de Ford, o fundador da marca de automóvel. Ford é uma espécie de deus neste contexto distópico. Aldous também previu tecnologias que existem hoje, além de nos lançar um olhar de alerta para o que um Estado totalitário pode causar dentro de uma sociedade fragilizada.

Bruna Domingos
Instagram: @brunadominngos

Amor à Primeira Briga: Quando os opostos passam a se admirar

Título Original: Les Combattants
Título no Brasil: Amor à Primeira Briga
Diretor: Thomas Cailley
Roteiro: Thomas Cailley e Claude Le Pape


Sinopse: Arnaud se prepara para tomar as rédeas da empresa da família, juntamente com o irmão. O encontro com Madeleine muda seus planos. A jovem está convencida que a humanidade está condenada. Ela se inscreve em um curso de preparação militar.

O nome original, Os Combatentes, se encaixa muito melhor no filme. Arnaud está combatendo o tempo inteiro seu sentimento e a pessoa que ele é. Madeleine está combatendo o tempo inteiro sobre coisas que ela não gosta, mas supostamente julga que deve gostar e seu comportamento. Os dois estão literalmente combatendo no treinamento do exército.

Amor à Primeira Briga conta a história de Arnauld (Kévin Azaïs) um jovem que após a morte do pai está trabalhando na empresa familiar de carpintaria com o irmão. Como de costume em comédias românticas, tudo muda quando ele conhece Madeleine (Adèle Haenel).

Enquanto Arnauld se vê confortável com sua vida, Madeleine tem muitas teorias de que o mundo vai acabar o mais breve possível e entrar num colapso social. Ela quer estar pronta para todo esse caos e está treinando muito para estar preparada para seja lá o que for chegar: vírus, guerra, apocalipse - isso tudo é dito pela personagem - ela esteja preparada. Para isso nada melhor do que entrar num campo de treinamento militar, certo?

Arnauld está fascinado com a nova garota e com o mundo que ela apresentou e toma a decisão de ir com ela para o campo de treinamento.

A história é simples do casal que não tem nada em comum e o melhor disso e que eles não vão para aquele clichê chato que aos poucos vão descobrindo que talvez gostem da mesma música, talvez gostem de algo parecido. Eles literalmente não possuem nada em comum e os que aproximam é a sobrevivência e a admiração que começam a sentir - Madeleine no caso, Arnaud estava admirado desde o começo. Aliás, coitado do Arnaud e nunca falo isso, mas ele é um personagem tranquilo e Madeleine realmente precisa de disciplina.

Ela foge do estereótipo de garota certinha. Também não é estilo rebelde, mas ela é realmente agressiva sem precisar de motivos claros para isso. Tem esse objetivo e atropela as pessoas seja com palavras ou agressão para chegar lá. Demora um pouco para ela começar a abrandar e mesmo assim não é muito.

O romance é muito lento. Thomas Cailley, diretor, conduziu tudo com tranquilidade até porque ele retrata aqui jovens na faixa dos 20 anos que vivenciaram a crise econômica na França e tentam se encaixar no mundo com a dose certa de humor e uma pitada de drama.

É uma história bem simples. Aquelas que você assiste no final da tarde, nada de novo, nada de espetacular, mas certamente prazeroso como uma comédia romântica deve ser.

O longa de 2014, estréia do diretor, alcançou o mérito de ser o primeiro filme a ganhar os três prêmios da Quinzena dos Realizadores do Festival Cannes 2014, sendo eles: Prix Label Europa Cinema, Art Cinema Award e Prix SACD.

Além do prêmio César 2015 de Melhor Filme, o prêmio de Melhor Atriz para Adèle Haenel e Ator Revelação para Kevin Azaïs.


Vanessa de Oliveira
Instagram: @nessagsr

Resenha: O mundo no black power de Tayó

Título: O mundo no black power de Tayó
Autora: Kiusam de Oliveira
Ilustração: Taisa Borges
Editora Peirópolis
Páginas: 46

O mundo no black power de Tayó é um livro infantil escrito pela Kiusam de Oliveira e ilustrado pela Taisa Borges. Nesta história, conhecemos Tayó, uma garotinha de 6 anos que adora seu cabelo e a cor da sua pele, juntamente com todos os seus traços. Tayó enfeita seu cabelo de várias formas, sempre misturando muitas cores em seus acessórios e roupa. Mas, há momentos em que ela deixa o seu black livre e solto como o universo.

Tayó significa "dar alegria" no idioma africano Iorubá, e é exatamente isso que a autora consegue transmitir nas poucas páginas da obra. Ela permite que crianças olhem de forma mais amorosa para os seus traços, assim, entendendo que cada fio de cabelo é importante para dar forma ao nosso universo. As ilustrações de Taisa reforçam ainda mais a ideia de empoderamento e beleza do cabelo crespo.

Eu recomendo a leitura para todas as crianças, é importante que todos cresçam tendo em mente que cada beleza é única e infinita, por isso é importante o respeito e a apreciação de nossas características. A partir do momento em que nos olhamos com mais amor, transmitimos mais segurança diante do mundo.

Eu realizei a leitura desse livro no final de julho para fechar o desafio #PRETATONA, e posso dizer? Finalizei da melhor forma, com um olhar ainda mais carinhoso para as minhas características físicas e ancestralidade. Único ponto que deixou a desejar é a versão kindle, as letras ficaram minúsculas e não tinha como aumentar, como se tivessem apenas escaneado as páginas e jogado lá. Mas de qualquer forma, valeu a pena forçar um pouquinho as vistas.

“MEU CABELO É MUITO BOM”

Autora:
"Nascida em Santo André, grande São Paulo, aos 14 anos ingressou no Colégio IESA para cursar Magistério de 2o Grau. Logo após, foi para a Fundação Santo André cursar Pedagogia, com habilitações em Administração Escolar e Orientação Educacional. Para qualificar-se fez lato-sensu em Metodologia do Ensino Superior e, na sequência, na USP habilitou-se em Deficiência Intelectual e Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e Doutorado em Educação, ambos pela USP.

Atua como professora há mais de 25 anos, tendo dedicado grande parte deste período à Educação Especial e à formação de profissionais de Educação no município de Diadema/SP, implantando a lei 10.639/03 e ocupando funções de gestão pública. Desenvolveu também, ao longo de anos, atividades formativas para educadores e profissionais de todas as áreas juntamente às instituições públicas e privadas, com temáticas relacionadas à diversidade de gêneros, questões étnico-raciais e afins". Fonte: https://mskiusam.com

Bruna Domingos
Instagram: @brunadominngos

Resenha: Estamos Bem


Título: Estamos Bem
Autora: Nina LaCour
Editora Plataforma 21
Páginas: 224


A sensação que tive durante toda essa leitura é que Nina LaCour estava enfiando espinhos no meu coração e puxando lentamente como a raiz de uma planta. Tudo parecia doer em cada palavra, cada sentimento, cada ato da personagem e mesmo no silêncio preenchido com palavras não ditas, a autora só estava me machucando o tempo inteiro. Nina descreve esse livro numa crueza de sentimentos que me machucou e cicatrizou tudo numa leitura.

Na trama, conhecemos Marin, uma garota que mora na universidade com sua colega de quarto e amiga Hannah. Sua colega de quarto está saindo para as festas de final de ano e Marin está no aguardo da visita de sua antiga amiga, Mabel. Quando iniciamos a história, entendemos que Marin está sozinha, completamente sozinha e compreendemos que ela e Mabel se afastaram por algum motivo.

Depois disso tudo, o que temos como protagonista é a solidão.

"Eu me pergunto se tem uma corrente secreta que une as pessoas que perderam alguma coisa. Não da forma que todo mundo perde alguma coisa, mas da forma que destrói sua vida, te destrói, e quando você olha para o próprio rosto, não parece mais seu."

A jornada de Marin é montada como um quebra cabeça, cada vez que ela e Mabel são obrigadas enfrentar situações que as deixam desconfortáveis voltamos um pouco para conhecer o passado das duas. Marin morava com seu avô que não existe mais, ela já tinha perdido a mãe muito nova e Mabel era sua melhor amiga e talvez um pouco mais do que isso.

Marin é fácil de gostar, mas seu passado não permite que ela siga em frente e as consequências disso são devastadoras. Sua solidão é tão grande que ela não se reconhece mais e isso ressoa em todas suas interações, suas lembranças e seu jeito de enxergar o mundo.

"Mabel afasta o olhar, e eu me pergunto se é porque estou contando coisas com as quais não consegue se identificar. Talvez pense que estou sendo dramática. Talvez esteja. Mas sei que tem uma diferença entre como eu entendia as coisas e como entendo agora. Eu chorava por causa de um livro, então o fechava e tudo acabava. Agora, tudo ressoa, entra como farpa, infecciona."

A solidão é protagonista junto com Marin. Ela atua como um lembrete que há algo errado todo momento, mesmo assim é fácil de notar que a personagem não é alguém que vive em depressão ou negação. Ela está lidando com o fato.

"O desconhecido é um lugar escuro. É difícil se render a ele. Mas acho que é onde moro a maior parte do tempo. Acho que é onde todos nós vivemos, então talvez não precise ser tão solitário. Talvez eu consiga me acomodar, me aconchegar, construir um lar na incerteza."

Enquanto Marin enfrenta pouco a pouco seu passado para se render ao presente, vamos compreendendo melhor a história que cerca a protagonista e o centro de toda dor, tristeza e solidão que a acompanha. Embora pareça um livro pesado, Estamos Bem faz uma boa mistura de todos seus temas.

Nina LaCour construiu uma história sobre a solidão e alguém acostumada a ela lidando com o passado que a levou até ali, uma história de amizade e amor perdido encontrando caminhos entre a dor, mas acima de tudo uma obra delicada sobre pessoas, suas dores e a luta para estarmos bem.

"O problema da negação é que, quando a verdade chega, você não está pronta."

Vanessa de Oliveira
Instagram: @nessagsr

The Umbrella Academy - 2ª Temporada: Mais que 'só' uma série de heróis!

Estamos no fim da primeira década do segundo milênio, e durante o almoço a MTV nos mostrava os dez videoclipes mais votados ao longo do dia. Na ascensão do emo, era normal vermos o My Chemical Romance figurar nas listas por dias e dias a fio. De toda banda, chamava a atenção a presença de palco de Gerard Way, o vocalista. Quem imaginaria que a excentricidade do cara ultrapassaria os palcos? Ao lado de Gabriel Bá, famoso quadrinista brasileiro, criaram juntos uma história que hoje é a segunda mais assistida na plataforma de streaming mais famosa do Brasil.

Quando a Netflix anunciou a série, baseada nos quadrinhos experimentais de Way e Bá, as dúvidas não demoraram a pairar na cabeça dos fãs: como algo tão abstrato tomaria forma nas nossas telas de maneira minimamente fiel? Bom, aconteceu. E a primeira temporada, com todos os percalços que teve, foi um sucesso. O que esperar da segunda temporada? No ar desde o dia 31 de Julho, Umbrella Academy segue nos proporcionando uma viagem atemporal (literalmente), e acima de tudo emocionante, sem precisar necessariamente de ação.

Depois de fugirem de um apocalipse eminente, os seis (ou sete) irmãos são jogados no mesmo local, mas em diferentes anos da década de 60. Cinco, o responsável por toda loucura, vê mais uma vez o mundo padecer. Ele precisa encontrar seus irmãos pra salvarem, novamente, o universo. O que acontece nesse meio tempo é a parte mais interessante da história. Não há luta, não há uma grande batalha corporal, e não tem porque haver. A série trata o desenvolvimento dos heróis (agora vivendo como humanos), seus dilemas na vida real que eles mesmos construíram numa nova linha temporal e a forma como subitamente precisam voltar a serem heróis depois de já terem se acostumado com uma nova realidade. Confuso, né? Mas faz sentido. 

Um dos pontos altos da trama é exatamente esse: ser claro sem ser óbvio. Trata de viagens no tempo, de como o passado pode alterar o futuro, de como o futuro pode perseguir o passado, da vida ingrata e completamente singular de seis (ou sete) irmãos completamente diferentes de núcleos completamente distintos, e tudo isso é extremamente claro! Mas, oportunistas que são, sempre deixando uma ou outra ponta solta pra uma eventual nova temporada (que a julgar pelo sucesso da segunda, acontecerá!).


Como estamos tratando da década de 1960, todo o cenário em que a série é ambientada é extremamente bem construído e fiel. E até os elementos fora de época, propositalmente implantados, soam como atemporais. E aquela velha premissa, de associar cada um dos protagonistas com uma paleta de cores, pode soar ultrapassada. Mas, se ainda usam, é porque funciona. E coube muito bem. É incrível como o imagético nos ajuda, indiretamente, a moldar a personalidade de cada um dos seis (ou sete) irmãos, baseado apenas nos tons das roupas que estão usando e dos ambientes em que estão inseridos. E é necessário dar todo crédito a curadoria da trilha sonora, que hora respeita a época em que a série se passa, e hora toca um cover pesado de Billie Eilish. E ainda sobra espaço para clássicos da disco, Frank Sinatra e uma canção do próprio Gerard Way, que fazia tempo que não víamos soltar a voz.

Compensando a falta de efeitos especiais cinematográficos com atuações mais profundas, personagens secundários importantes, representatividade e piadas pontuais, a segunda temporada de Umbrella Academy é esclarecedora, poética e sem medo de ousar. Nos dando plot twist atrás de plot twist e nos tirando o fôlego a cada instante. O que, convenhamos, é digno de aplausos se pensarmos na dificuldade que deve ser tratar da vida alcoólica, sexual, temperamental e fora dos padrões de seis (ou sete) irmãos malucos.

Renan Augusto Dias
Instagram: @renanaugusto.dias

Resenha: Conectadas

Título: Conectadas
Autora: Clara Alves
Editora Seguinte
Páginas: 320


Raíssa conheceu o mundo dos games bem nova e logo descobriu que o universo dos jogadores não é um lugar muito acolhedor, principalmente se você for mulher. Depois de conversar com seu pai, ela teve a ideia de fazer um personagem masculino e investir de novo no mundo dos jogos, principalmente no jogo Feéricos que é seu favorito. Tudo estava indo bem até um dia ela encontrar uma outra garota chamada Ayla passando pelos mesmo problemas que ela no passado e resolve ajudar a garota a navegar naquele universo.

O único problema é que Raíssa nunca revelou que ela na verdade é uma mulher e começou a conversar muito com Ayla. A amizade passou para um flerte e para manter as aparências, ela usa a identidade de Léo, seu melhor amigo. E estava tudo bem, elas nunca iriam se conhecer. É só a internet, certo?

A história se inicia quando Raíssa e Ayla já estão muitos próximas, conversando por meses e se envolvendo cada vez mais. Mesmo com isso, Raíssa ainda não contou a verdade para Ayla e embora se sinta desconfortável e triste com a mentira que carrega, ela não consegue criar coragem para dizer a verdade.

Quando a empresa do jogo Feéricos resolve fazer um concurso de cosplay valendo dois ingressos para o ganhador (a) e seu acompanhante irem a feira mais badalada sobre games, uma espécie de Comic Con, mas inteira do universo do jogo. Para Ayla é a oportunidade perfeita para conhecer seu crush virtual Léo e para Raíssa pode ser uma bola de neve.

"Considerando toda a confusão em minha vida, os problemas financeiros e o relacionamento complicado dos meus pais, além do turbilhão de sentimentos dentro de mim, entrar num jogo em que eu podia ser quem eu quisesse, num mundo de fantasia, sem nenhuma dessas questões para me atormentar, era um enorme alívio."

Léo, o melhor amigo de Raíssa, conheceu o jogo através dela e eles sempre jogam juntos, surtam juntos e se empolgam com cada lançamento e cada expansão nova que o jogo lança. Ele está muito empolgado para participar do concurso, mas sabendo que Raíssa usa suas fotos e que inventou que era sua irmã, ele quer muito que a amiga conte a verdade para Ayla. Acaba que Raíssa ganha o concurso e leva Léo para o evento e Ayla acaba tendo a oportunidade de ir também quando ganha o ingresso de uma tia.

E Ayla está perto de conhecer a pessoa por quem se apaixonou sem saber que é uma garota. E Raíssa precisa conseguir coragem para contar a verdade e desfazer toda essa bagunça.

"Eu queria, sim, conhecer a Ayla - e como! Mas esse sonho era uma realidade tão distante que só conseguia enxergá-lo num universo paralelo. Um em que eu não tivesse medo de ser quem eu sou. Um em que o mundo me aceitasse. Um em que a Ayla gostasse da Raíssa, não do Léo."

O livro é contado pelo ponto de vista das duas protagonistas, Raíssa e Ayla, então conhecemos seus amigos, seus conflitos com suas famílias e porque elas amam tanto o jogo. O universo do jogo, Feéricos, também é inteiro construído dentro do livro como se existisse um outro universo para explorar.

Outra coisa maravilhosa sobre o livro é a representação das personagens, Ayla tem ascendência japonesa e a Raíssa tem ascendência indígena. Durante o livro, as duas tem um diálogo muito interessante sobre conhecer as próprias origens para se ter um senso de identidade e comunidade. Léo, o melhor amigo e aquele personagem que você vai amar com toda a certeza é assexual.

A história é leve e passa muito rápido, é fácil se apegar aos personagens e se identificar com os conflitos. Insegurança, autoaceitação, machismo nos jogos online. Para essas personagens, principalmente a questão da autoaceitação, tanto na questão da sexualidade como na questão de identidade. Todos procuramos, de certa forma, encontrar um caminho para aceitar e encontrar um "eu" e isso não precisa ser apenas ligado a temas como sexualidade ou origem, mas como pessoas que procuram e aceitam felicidade.

Com 320 páginas que acabei nem sentindo, Clara Alves construiu uma narrativa simples e delicada sobre conexões como o nome já diz. Muito mais do que isso, Conectadas é uma história sobre amor, amizade, games e identidade.


Vanessa de Oliveira
Instagram: @nessagsr