A produção brasileira com foco na vida difícil das mulheres nos anos 1960 (não que hoje seja fácil) e com direção dividida entre uma mulher, Julia Rezende, e dois homens (?), Hugo Prata e Caíto Ortiz, trouxe em sua segunda temporada alguma preguiça de roteiro, mas tem também novas tramas, reviravoltas e problemas sociais ainda maiores pra escancarar.
É muito difícil conseguir avaliar um trabalho como esse. Apesar de extremamente necessário, atemporal e dinâmico, algumas histórias custam a pegar no tranco pelo pouco desenvolvimento, enquanto alguns bons novos personagens são muito mal aproveitados. O roteiro parece trazer uma pressa nas resoluções que a primeira temporada não teve, e isso é bastante incompreensível, visto que todos os personagens principais da trama já estavam devidamente apresentados e todo o tempo de tela restante poderia ser unicamente para os respectivos desenrolares. Mas, não se engane. Coisa Mais Linda herda das novelas algo quase místico: A súbita vontade de não parar de assistir. É muito mágica e funcional a forma em que cada núcleo tem suas histórias entrelaçadas. E se a primeira temporada foi de revelações sobre esses mesmos fatos, a segunda temporada traz todas as resoluções dos mesmos. Deixando tudo ainda mais atraente e aguçando nossa ansiedade (não à toa, terminei toda temporada em uma noite).
Sem preguiça está o elenco! As atuações seguem muito firmes e nos conquistam cada vez mais. Exceto, pasmem, a protagonista. O roteiro fez de tudo para que a Malu de Maria Casadevall conseguisse explorar diferentes lados da sua personalidade. O resultado foi o mais do mesmo, que já vimos antes. Os destaques na área, por sua vez, também são os mesmos de sempre. Entre eles, a maior delas: Mel Lisboa. O que essa mulher faz é um show de atuação. Junto da belíssima Pathy de Jesus (Adélia), que infelizmente foi uma das mais prejudicadas com esse descuidado de roteiro. Os rapazes Alexandre Cioletti (Nelson), Ícaro Silva (Capitão) e Gustavo Machado (Roberto) são ótimas escadas e, por vezes, assumiram seus próprios protagonismos, dando o sabor agridoce perfeito para algumas sub tramas, que mesmo assim, focam com muita precisão em vários desconfortos sociais machistas. Nessa temporada, em especial, o racismo é pontuado de maneira dolorida, e por isso, extremamente assertiva. Além de, claro, todos os outros percalços e falhas da sociedade patriarcal (cujo fala nem me cabe).
Das boas continuidades, o cenário segue impecável. As cores quentes e frias sinalizam as diferentes faixas sociais de um tão dividido e discrepante Rio de Janeiro, e esse é um conceito quase infalível em diferentes películas, que segue sendo bem aplicado aqui. O figurino nunca obedeceu muito a temporalidade da série, e não acho isso um defeito. Pelo contrário: Achei um charme contrastante. E nessa temporada, os flertes com a modernidade, em especial nos figurinos das mulheres, são maiores e mais simbólicos. Tereza, por exemplo, usa roupas muito a frente do tempo, revelando sua visão sobre o feminismo na época. Malu usa tons neutros em composições despojadas, sinalizando sua procura árdua pelo auto entendimento e independência. E assim acontece com todo o elenco, de forma discreta, mas sensível.
A trilha sonora deixou de lado o exagero no estereótipo carioca, e também trouxe diferentes emoções ao todo, incluindo muito mais samba e até mesmo rock. Uma pitada de tempero refrescante na quente e batida bossa nova.
A série deixa, mais uma vez, o gosto de mais uma temporada. Sabemos que, dadas as devidas circunstâncias, muito dificilmente gravações voltarão a agenda. Ficaremos sabáticos, esperando por mais um pouco desse vício chamado Coisa Mais Linda.
Renan Augusto Dias
Instagram: @renanaugusto.dias
Olá Renan,
ResponderExcluirAdorei sua resenha. Ainda não consegui assistir essa segunda temporada mas a primeira realmente fez com que eu não conseguisse parar de assistir. Gosto das abordagens discutidas.
Ler sua resenha me animou bastante em assistir o quanto antes, aproveitando esse tempo em casa que o isolamento tem me proporcionado.
Beijo!
https://www.amorpelaspaginas.com/
Oi, Renan como vai? Eu tenho curiosidade de assistir este seriado nacional, muito embora as séries de nosso país não me agradam completamente quando assisto-as. Tenho a impressão de estar assistindo a um capítulo de novela, sei lá. Com as séries estrangeiras não tenho essa sensação, mas talvez seja apenas uma sensação minha em particular. De todo o modo a série parece ser muito boa. Parabéns pela resenha, ficou incrível. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Com certeza, o fato da trama não deixar pontas soltas dentro dos núcleos (como uma novela), é um ponto positivo para me fazer ter ainda mais curiosidade sobre essa série. Mas é uma pena que a protagonista não tenha conquistado tanto, pois eu mesma, gosto muito dos trabalhos da atriz Maria Casadevall.
ResponderExcluirQuando possível, quero começar a assistir Coisa Mais Linda.
Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥