Resenha: Enquanto A Chuva Caía

Título: Enquanto A Chuva Caía
Autora: Christine M.
Editora Novas Páginas
Páginas: 288

Erik faz serviços como assassinatos e queimas de arquivo, o que leva a ter uma vida dupla e estar sempre metido em confusão. É quando recebe uma missão nos Estados Unidos para uma investigação que envolve uma renomada empresa americana. Ao buscar o passado de Josef Holmes, Erik acaba encontrando a herdeira Marina que está na frente de todos os negócios da família, o que custará uma guerra entre o amor, mentiras e segredos.

Marina é uma viúva que está aprendendo a lidar com a dor da perda e uma família desestruturada. Seu pai está num estágio avançado de Alzheimer e sua mãe não aceita, ela também é a CEO da empresa  de seus pais e tenta manter o nome e os negócios da família.

Erik acaba entrando em sua empresa como o mais novo advogado e o homem misterioso capaz de mexer com seus sentimentos, que lhe deixa totalmente fora de controle da sua determinação, da imagem de mulher forte e principalmente dos segredos que ela tenta com muito esforço esconder.

A paixão do casal principal surge em meio ao sofrimento, tanto Erik quanto Marina estão desabados e emocionalmente instáveis e esse é um fator estranho e belo que os ligam. Quando nos apaixonamos procuramos algo em comum e esse algo que os protagonistas encontram é a dor, sofrimento, arrependimento e segredos.

São exatamente esses segredos que ameaçam o relacionamento do casal. O mistério também permeia a vida de ambos, tanto a investigação de Erik sobre a empresa de Marina quanto coisas que ela está tentando esconder para manter a família. Quanto mais se envolvem e mais se apaixonam, mais esses segredos são expostos e mais perto certos mistérios, mortes e mentiras vão chegando perto para assombrá-los e ameaçá-los.

A autora tem uma escrita envolvente e muito sentimental. As palavras vão se encaixando tão suave que nos deixam próximos dos personagens e da história em si. No começo de cada capítulo não tem o nome do narrador, como costuma ocorrer na maioria dos livros escritos em primeira pessoa, mas conseguimos notar a diferença na narrativa de acordo com a personalidade de Erik e Marina. 

Outro ponto alto do livro é que antes que os protagonistas se encontrem e nos façam desejar que terminem juntos, a autora faz questão de nos deixar apaixonados por eles separados e por suas histórias de vida, personalidade e a determinação de ambos.

Em vários momentos da narrativa, Christine nos presenteia com frases reflexivas que cravam em nossa memória como estacas. O humor ácido de Erik também contribui perfeitamente para os momentos de alegria e até um alívio para os momentos de tensão e choro.

A Editora Novas Páginas acertou na capa. Escrevendo essa resenha consigo sentir o misto de emoções da leitura que foi extremamente suave e muito gostosa de ler. Enfim, recomendo a leitura para os apaixonados e os decepcionados.

Vanessa de Oliveira
Instagram: @nessagsr

Extraordinário: uma narrativa sensível

Extraordinário (2017), é um filme dirigido por Stephen Chbosky e baseado no livro que leva o mesmo nome, da autora R.J Palacio. Eu sei que estou bem atrasada e que muita gente já falou sobre essa obra, mas um novo olhar nunca é demais.

Este filme conta a história do pequeno August Pullman (Jacob Tremblay), ou só Auggie. Ele nasceu com uma deformidade no rosto causada pela síndrome de Treacher Collins, uma doença hereditária que dificulta o desenvolvimento de ossos e tecidos do rosto. Auggie já passou por mais de 20 cirurgias para respirar e enxergar melhor e mesmo com toda essa bagagem, encontra alegria ao estudar ciência e assistir filmes de ficção científica, como Star Wars. 

Os seus pais, Isabel (Julia Roberts) e Nate Pullman (Owen Wilson) e a irmã mais velha, Olivia Pullman (Izabela Vidovic), sempre deram um jeito de proteger o caçula do preconceito que existe fora de casa, por isso, o garoto estudou com a mãe até os 10 anos. Mas, o dia de frequentar a escola chegou. Seu pesadelo? Ter que enfrentar os olhares das crianças, pois esses são os mais sinceros. Um dia antes de começar a estudar na escola de fato, Isabel levou o filho para conhecer o espaço, o diretor convidou algumas crianças para conhecer e conversar com Auggie. O pequeno fica bastante retraído no início, mas depois consegue soltar algumas palavras. O que devemos entender aqui é que Auggie não confia em ninguém além de sua família, está acostumado com todos os olhares de pena e detesta a ideia de imaginar o que realmente passa na mente das pessoas. Sempre que pode, usa um capacete de astronauta, assim evita o olhar de choque alheio, pois é isso que machuca.

E machucou no primeiro dia de aula, o bullying é um assunto muito complicado quando se trata de crianças, é algo que um diretor escolar nunca vai conseguir conter, pois respeitar as diferenças é uma educação que precisa ser dada dentro de casa. Quando olho o comportamento de uma criança, automaticamente eu o associo a sua criação, eu tenho consciência das exceções, mas não consigo desvincular o comportamento de uma criança ao comportamento dos pais e na relação que eles tem dentro da sociedade. E o filme traz um pouco dessa ideia quando os pais de Julian (Bryce Gheisar), o "bad boy" da escola, conversa com o diretor. A mãe assume a culpa de uma das peripécias do garoto e ainda relativiza a maldade do filho afirmando que é coisa de criança.

O filme explora diversas perspectivas durante a narrativa, a gente tem a oportunidade de ver como tudo isso funciona para Olivia. Desde o momento que Auggie nasceu, todas as atenções se voltaram para a sua saúde e necessidade, com isso, as necessidades de Olivia deixaram de ser prioridade, afinal, ela é uma garota saudável. Porém, por dentro não é assim que funciona, por mais que ela amasse o irmão, Olivia queria ter um pouco mais da atenção dos pais, queria falar sobre como foi seu dia e suas chateações. 

Quando ela pensava que estava tendo alguma aproximação, algo acontecia e todas as atenções voltavam para o Auggie. Olivia estava tendo problemas com sua melhor amiga, com quem ela falaria sobre isso? Estava conhecendo um rapaz na escola e se apaixonando, com quem compartilharia esse frio na barriga? Ter problemas na escola é pequeno se olharmos para uma pessoa que enfrenta uma síndrome de Treacher Collins, mas quando se trata de sentimento negativo, é preciso cuidar para que não se torne algo maior. Foi interessante acompanhar essa busca da personagem por um encaixe dentro da família, a relação de Olivia e Isabel precisava ser discutida e quando elas conseguem se resolver, você sente que a insegurança de Olivia diminui. Esse é um dos impactos que um bom relacionamento familiar causa.

“Auggie é o sol, e todos somos os outros astros girando em torno dele”

Isso nos leva a olhar um pouco mais para o papel de mãe da Isabel, uma mulher extremamente dedicada e que abandonou alguns de seus sonhos para cuidar do filho 24 horas por dia. Enquanto o marido, Nate, um homem bastante amoroso, ainda continuava com o seu trabalho. É claro que alguém precisa sustentar a casa, mas eu senti a falta de um equilíbrio. A dedicação precisa ser igual, não conseguir terminar a tese sobre arte era um pedaço que faltava em Isabel, ela sentia isso sempre que o assunto surgia. 

O amor é o resumo das relações dentro desse filme. Auggie faz amizades na escola, essas relações enfrentam problemas, mas amadurecem a partir do momento em que os personagens vão entendendo o seu papel e o lugar que pertencem. O nosso circulo social precisa ser composto por pessoas que nos fazem bem e que, de certa forma, nos protegem. 

Extraordinário é sensível do início ao fim, trata com leveza assuntos que fazem parte da nossa realidade. Amor, cuidado, escolhas e segurança (ou a falta dela) são pontos que nos moldam durante a vida. Na minha percepção, não há uma romantização no problema de Auggie, muito pelo contrário, ele mostra o quão difícil é ser diferente, é uma batalha que precisa ser vencida todos os dias. No final do filme, Auggie não demonstra conformação com sua doença, mas demonstra que apesar dela, viver ainda é extraordinário.

“Todo mundo deveria ser aplaudido de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo”


Bruna Domingos
Instagram: @brunadominngos

Uma Conversa Sobre Arte

Já tive problemas com arte. 

A frase certa aqui é que já fui arrogante o suficiente para julgar algum filme, algum livro, alguma música, alguma pintura pelo simples fato de não entender, não conhecer ou olhar para o artista e afirmar que aquele não era meu estilo sem ao menos saber sobre o que era de fato.

As vezes você não entende um filme. Acontece. O interessante sobre a arte é que ela é sobre trazer diferentes interpretações e não sobre o que é certo ou errado. Nem sempre sua perspectiva e experiência sobre aquela obra será igual ao de outra pessoa porque os valores, a cultura e os sentimentos agregados quando viram aquela obra são diferentes.

A verdade é que pode não existir uma obra ruim.

A verdade é que você pode não entender alguma coisa, mas você não pode simplesmente dizer que aquilo é ruim porque você não entendeu. Procure entender aquilo que você consumiu e depois disso você tem todo direito de não gostar do que viu, leu ou conheceu. 

Depois disso todo direito de dizer que é ruim. Mas ainda será ruim para você.

Lembre-se que você pode não gostar de algo e outra pessoa pode amar, porque a arte em si é subjetiva e depende somente do seu público. E cada pessoa é um universo em si.

Você pode encontrar alguém que ame Harry Potter e alguém que não goste. Alguém que ame Crepúsculo e outra que não. Alguém que ame o final de How I Met You Mother e Lost e outro que odeia todo aquele final.

Cada um terá sua interpretação e sua maneira de defender. Não significa que nenhum deles está errado.

Só não julgue sem conhecer e sem entender. Com uma conversa, talvez, você até tenha uma nova visão sobre aquela arte e quem sabe um novo amigo.

Como vocês costumam encarar a arte? Conte para mim aqui nos comentários.



Vanessa de Oliveira
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Becoming: fortalecendo espaços através da história


Becoming (2020), intitulado como "Minha História" aqui no Brasil, é um documentário que acompanha a turnê de lançamento do livro autobiográfico da 46ª primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama. Mas, muito além do que registrar toda a turnê, nós conhecemos um pouco mais sobre a vida pessoal da ex-primeira-dama. Uma mulher preta vivendo em um país racista e quebrando barreiras ao mostrar que pode estar onde ela quer estar. 

No documentário, dirigido por Nadia Hallgren, Michelle relata seus primeiros anos, a convivência com os pais e o ambiente escolar. Ela fala sobre como sua vida sempre foi um grande "não", o racismo a desencorajou de seguir seus sonhos diversas vezes, chegou a ouvir dos orientadores da escola que a Universidade de Princeton não era seu lugar, mas ela não se deixou esmorecer.

Até que chegou o dia de disputar a entrada na Casa Branca, foi difícil lidar com a imprensa durante as campanhas políticas do marido, Barack Obama. Uma das principais lições foi de sempre pensar duas, três, quatro vezes antes de dar uma declaração, pois a imprensa sensacionalista não liga para o que você tem a dizer, sua imagem é sempre mais importante.

Durante a narrativa documental, Michelle enfatiza bastante que seu público-alvo é o jovem, pois os jovens são o futuro da nação. Entre mediações e entrevistas sobre o livro, Michelle também senta para conversar com as minorias: pretos, índios, asiáticos, latinos, LGBTQI+... Nessas conversas ela fala sobre o poder de não se sentir invisível e sobre a propriedade de sonhar. Isso me tocou, especialmente porque todos os dias eu penso sobre como continuar e não perder a esperança.

Michelle fala sobre os nãos que a vida dá e eu automaticamente penso nos nãos que recebo todos os dias quando sinto que meu trabalho não está sendo valorizado como eu esperava. O que falta? O fato é que temos que nos conhecer, saber onde queremos chegar e nos apegar naquelas pessoas que nos inspiram e são nossas referências. Em uma conversa que tive com a Anne Quiangala, do blog Preta, Nerd & Burning Hell, falamos sobre a importância de nos apegar às pessoas que estão constantemente nos motivando e valorizando aquilo que fazemos. No final, essa foi a maior mensagem que o documentário me passou, não ter medo de ser quem somos e lutar por aquilo que acreditamos.

Não queremos ser só mais um número, temos nome e sobrenome, queremos ser chamados por eles. Muito mais do que fazer a diferença no meu trabalho e nas minhas escolhas, eu quero viver como qualquer pessoa que tem direitos. O não, não é resposta para mim, essa é uma barreira que quebramos todos os dias. Ao passar por 34 cidades compartilhando sua história, Michelle fortaleceu espaços e acordou um espirito de união entre seus leitores. Becoming é uma viagem incrível!


Bruna Domingos
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10 Aberturas de Séries que Amo

Uma boa série além de bons personagens, boa trama que te prende por vários episódios precisa de um elemento que não pode faltar. Um elemento que vai se repetir por dias na sua cabeça: a abertura.

A verdade é que uma abertura bem feita pode deixar uma série muito mais interessante.

Como são muitas séries a lista não está indicando nenhuma ordem especifica, apenas as que foram passando pela minha mente.



1 - Smallville



2 - Dexter



3 - Buffy: A Caça Vampiros


4 - Arquivo X



5 - Friends



6 - How I Met Your Mother


7 - A Sete Palmos



8 - Malcolm in the Middle


9 - CSI



10 - Castelo Rá Tim Bum


Você assistia alguma dessas séries? Qual abertura é sua favorita? Tem sugestão?
Fale comigo aqui nos comentários!



Vanessa de Oliveira
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Resenha: Vozes negras

Título: Vozes negras
Autoras: Amanda Condasi, Flor, Priscila, Isa Souza, Maria Ferreira e Pétala Souza
Se Liga Editorial
Páginas: 167 

Vozes Negras é um livro de contos escrito por mulheres pretas, contando histórias de representatividade preta. Maria Ferreira (@impressoesdemaria), Flor, Priscila (@aflorpriscila), Pétala Souza, Isa Souza (@blogparenteses) e Amanda Condasi (@amandacondasi) escrevem sobre amor, drama, sonhos, escolhas, liberdade e afrofuturismo. Tudo isso com uma base importantíssima: negritude. A representatividade está em cada vírgula, no conto da Maria, por exemplo, nós vamos refletir sobre o impacto que o racismo causa nas nossas escolhas diárias, nas nossas conversas, amizades e nas pessoas que escolhemos como parceiros. Quando o personagem Pedro abandona Amara, uma mulher negra, para se relacionar com uma mulher branca, Maria levanta um ponto importante: o racismo nos afasta de quem nós somos. O mesmo acontece com Enyin no conto de Pétala e Isa Souza, ela tem uma escolha a fazer: seguir os planos de vida "perfeita" que criaram para ela ou viver a vida que seus ancestrais construíram ao longo do tempo?

São muitos caminhos e reflexões, basta você adequar as histórias à sua realidade.

Coincidências: Este é o primeiro conto do livro, e nele você será estimulado a pensar sobre como o racismo influencia nas escolhas de homens e mulheres pretas, mas no caso das mulheres, nem sempre é uma escolha. Maria Ferreira nos traz a história de Amara, uma jovem preta e nordestina que se muda para São Paulo para cursar Letras. Na faculdade, ela faz amizade com Akin, Jamila e Dandara, jovens negros que serão importantíssimos para a adaptação da protagonista nesta nova jornada.

Nas férias, Amara vai visitar seus pais na Bahia e lá conhece um rapaz com características físicas parecidas com as de James Baldwin, e apesar de terem se conhecido fora da capital paulista, Pedro também é de São Paulo. 

Após a viagem, Amara e Pedro combinam de manter contato e as coincidências que vão acontecendo entre os dois parecem fortalecer este relacionamento. Os dois compartilham muitos passeios, conversas, músicas e gentilezas. Dessa forma, a intimidade parece evoluir. Mas de repente tudo muda, Pedro não responde mais as mensagens de Amara e para de interagir com ela nas redes sociais. O menino simplesmente some. Depois de muito sofrer, Amara descobre o que aconteceu, Pedro estava saindo com outra garota. Uma garota branca.

"Uma história de amor sempre é escrita a quatro mãos e dois corpos, às vezes até mais. O fato é que ele não quis escrever comigo."

Carimbos e memórias: Neste segundo conto atingimos o significado de "quentinho no coração", Flor, Priscila nos conta a história de Glória Maria, menina preta que vive em um bairro pequeno e que tem nos livros o seu grande refugio. Ela e suas amigas, Michele e Denise, estão em busca de um novo nome para a biblioteca da escola, que depois de sofrer com uma enchente, está sendo reformada e abastecida com livros. 

Em uma de suas buscas por doações de livros, Glorinha conhece a história de Carolina Maria de Jesus. Glória se sente, particularmente, impactada. Ela interroga sua professora sobre a desigualdade social e levanta questões que deveriam ser discutidas em todas as salas de aula do país.

A passagem de tempo é feita pela divisão do conto em mini-capítulos e neles acompanhamos o amadurecimento de Glorinha, e sua paixão em contar histórias através da escrita e da comunicação social. Conforme a leitura vai avançando você percebe a associação da história com a vida da famosa jornalista Glória Maria. Mulher negra que teve papel importante na representatividade de mulheres negras no audiovisual e no jornalismo.

"Nasci para comunicar e quero que as pessoas me ouçam"

Não existem sinônimos suficiente para o futuro: Combinando ancestralidade, cultura e ficção cientifica, somos levados para uma realidade não muito diferente da nossa atualmente. No conto, o mundo está vivendo um isolamento causado por uma pandemia de Omega Vírus. Nesta realidade, duas garotas pretas e gordas se encontram e partem em busca de suas verdadeiras identidades. 

Enyin foi criada para ser resistente ao Omega e vive sob isolamento, enquanto Aleduma é uma Colhedora-Rá com uma missão, levar Enyin para o quilombo. O que no início parecia ser métodos de proteção, o isolamento começou a se tornar uma ferramenta de higienização, pois muitas pessoas estavam sendo mudadas geneticamente para serem humanos "perfeitos". 

Além de ter que enfrentar os obstáculos de segurança, Ale terá que estimular Enyin a buscar por seus ancestrais e a lembrar de sua avó, mulher muito importante para a construção e desenvolvimento de Enyin. Neste conto, Pétala e Isa Souza nos trazem o afrofuturismo narrado em primeira, segunda e terceira pessoa. A busca por um futuro livre começa a se tornar cada vez mais real conforme a leitura avança e a escrita das autoras é muito importante para a imaginação do cenário. Não posso esquecer de mencionar o tom poético em algumas partes, o que gerou emoção e torcida para que as protagonistas enfim se encontrassem.

"Penso, logo me lembro dos que me antecederam, dos que estão comigo hoje e daqueles que estão por vir. Assim sou parte de um todo e assim existo"

Na ponta dos sonhos: Aqui chegamos no quarto e último conto da antologia, Amanda Condasi nos presenteia com a história de Dandara, uma jovem preta e periférica que sonha em ser uma bailarina de balé clássico. Quando ainda tinha poucos anos de vida, Dandara acompanhava sua mãe nas idas ao Lixão de Itaoca em São Gonçalo, em busca de objetos de valor para vender e se sustentar. Foi lá que em uma de suas procuras, Dandara achou um par de sapatilhas de balé e perguntou para a sua mãe para o que aquilo servia. Após ouvir a explicação, Dandara se apaixonou, dançar balé era o ela queria fazer.

O anos se passaram e Dandara já estava prestes a terminar a escola, ainda mantinha vivo o seu sonho de ser bailarina. Durante os anos ela praticou balé através de uma ONG, mas não durou muito tempo, então Dandara teve que recorrer aos estudos da arte pela internet. Em ritmo de vestibular, Dandara recebe uma novidade, vai ser inaugurada uma nova ONG Caminhos no bairro. Uma das atividades oferecidas será aula de dança, incluindo balé. Bom, essa era a oportunidade perfeita para Dandara voltar a ter aulas com uma professora profissional, e então ela foi atrás. Não vou dar spoilers, mas só quero dizer que os acontecimentos seguintes vão encher o coração. 

A representatividade no mundo da arte foi o tema perfeito para fechar o livro. Você se emociona e começa a pensar que seus sonhos são possíveis porque é isso que a representatividade faz, você enxerga a possibilidade de realizar.

"Nunca tive vergonha das minhas origens e, se hoje minha mãe não cata só lixo e tem um emprego mais digno, foi por muito tentar. Claro que não é e nunca será fácil, mas a gente insiste, persiste e quebra barreiras."

Vozes Negras foi lançado através de um financiamento coletivo iniciado em 2019, antes mesmo de saber sobre esse projeto, eu já seguia a Maria Ferreira no Instagram e acompanhava seu trabalho no blog Impressões de Maria (www.impressoesdemaria.com.br). Na época, eu consegui contribuir no financiamento, fazer parte dessa história, mesmo com uma pequena contribuição, é motivo de muito orgulho para mim. Então, é por meio dessa resenha que convido vocês a lerem este livro tão bem escrito e produzido. Peço também que apoiem iniciativas como essa, para que mais potências negras tenham voz.

Bruna Domingos
Instagram: @brunadominngos

Life is Strange: Sobre Tentar de Novo

Esse texto pode conter spoilers sobre o primeiro jogo da série de jogos Life is Strange.

Life is Strange é um jogo de aventura dividido em cinco episódios, desenvolvido pelo estúdio Dontnod que conta a história de Max Caulfield. Uma aspirante fotógrafa que ao salvar uma garota de ser baleada no banheiro da escola, descobre o poder de voltar no tempo e refazer suas escolhas. E embora podemos destrinchar vários assuntos sobre esse jogo já que ele aborda bulliyng, assédio, depressão e muitos outros, hoje o assunto será sobre escolhas.

Max é uma garota tímida e muito insegura, ela se mudou com sua família para Seattle aos 13 anos, logo após o pai de sua melhor amiga Chloe Price morrer tragicamente num acidente de carro. Cinco anos depois, Max retorna para Arcadia Bay após receber uma bolsa da Blackwell Academy - uma escola reconhecida pela excelência em artes e ciências. É esse retorno que marca a vida de Max, enquanto constrói sua vida em Arcadia Bay com novos amigos, ela não deixa de se perguntar sobre Chloe. Sua timidez e insegurança é o que a impedem de retomar o contato com a amiga.

Chloe é a garota que ela salva no banheiro.

Max e Chloe

Ao voltar no tempo naquele exato momento, Max consegue salvar Chloe e seguimos uma jornada sobre a vida estranha dessas personagens que cabe tão bem com o nome do jogo. De uma maneira delicada e humana, aprendemos através de Max, as dificuldades da segunda chance. A partir do momento que ela descobre seu poder é que você, como jogador, começa a questionar suas escolhas e o que poderia ter feito diferente, porque naquele momento a escolha pode ter um pequeno efeito, mas no futuro pode ser uma grande consequência. Assim como a vida.

Quanto mais Max tenta voltar e recriar situações para corrigir coisas e tentar fazer escolhas diferentes, mais esse poder vai lhe machucando por ser usado tantas vezes. Assim como a vida, recordar e tentar refazer passos para melhorar coisas que poderíamos fazer diferente, é abrir feridas que não precisam ser abertas. Life is Strange traz em sua mensagem sobre voltar no tempo, as dificuldades de escolhas diferentes que terão consequências diferentes e isso não nos impede de nos machucar de qualquer forma.

Conforme avançamos com a história, descobrimos que de qualquer forma tudo poderia ter terminado de apenas um modo e que Max deveria ter aprendido, desde o começo, a ter se dado melhor com suas inseguranças e encontrado Chloe antes, passado mais tempo com a amiga, ter entregue a foto para o concurso na qual ela tinha tanto medo (na qual descobrimos no futuro que ela ganharia) e fazer escolhas audaciosas. Refazer escolhas passadas não pode mudar o que vem no futuro. 

Aprender lidar com as escolhas que fazemos e suas consequências é uma das mais importantes lições de Life is Strange. A outra é sobre aproveitar as chances do presente.

Life is Strange foi um jogo que repercutiu o mundo com todos os temas que ele aborda, por seus personagens fora do clichê e de lados humanos e todos seus simbolismos. Apesar da temática de voltar no tempo, há muita coisa para ser discutida num jogo tão cheio de história, assuntos sérios e um respiro no meio de tantos jogos.

Enquanto tantos assuntos vão se condensando para se tornar uma obra-prima, não pude deixar de notar o quanto a temática da volta do tempo sempre parecia ser um refúgio para as inseguranças da protagonista. E para o final, você jogador e você leitor, tome como lição que o tentar de novo não é tentar corrigir coisas do passado, mas sim, aproveitar as coisas do presente.

Do passado apenas lições para um futuro melhor.



Vanessa de Oliveira
Instagram: @nessagsr

Três séries e um filme para aliviar a mente e refletir um pouco

A Netflix nunca foi tão bem explorada por mim como está sendo nesses últimos dias. A quarentena está cozinhando muita gente, e a reclamação de tédio só aumenta, mas estou procurando fazer o máximo de coisas que possam aliviar a mente. Há uns dias eu fiz um post dando dicas para não ficar no ócio (AQUI) e hoje volto com algumas sugestões de séries e um filme.

Algumas dessas sugestões estavam na minha lista há algum tempo e outras são lançamentos recentes. De qualquer forma, todos valem muito a pena. Então, vamos lá:

1 - One Day At a Time: história de uma família cubana que mora nos Estados Unidos e precisa lidar com as mágoas do passado e desafiar seus relacionamentos atuais. Tudo colocado em pauta de forma leve e humorada, que mistura lágrimas com risos. Os momentos mais marcantes, pelo menos para mim, foram quando a série falou sobre xenofobia e racismo e quando a filha mais velha de Penelope (personagem principal) revela que é gay. A história mostrou como essas situações impactam uma família e sua forma de lidar com o mundo. Trailer: https://youtu.be/4DF4ad1nWgg

2 - Atypical: eu não sei o porquê demorei tanto para dar uma chance para essa série, de verdade. Cada episódio você aprende um pouco mais sobre a relação de pessoas autistas com o mundo, e embarcar nos dilemas do personagem principal, Sam Gardner, é desafiador. E não só isso, o enredo também dá o devido destaque na relação dos pais de Sam, Elsa e Doug Gardner, e sua irmã, Casey Gardner, que além de precisar focar nos estudos e no esporte que pratica, também começa a fazer descobertas sobre a sua sexualidade. Amor, amizade, família e saúde mental são os principais temas abordados na série. Trailer: https://youtu.be/ieHh4U-QYwU

3 - Naver Have I Ever: traduzida como "Eu nunca..." aqui no Brasil, é uma série que fala sobre a adolescência de uma jovem indiana que mora nos EUA. A jovem, Devi Vishwakumar, perdeu o pai de uma forma muito traumática e tem um relacionamento conturbado com a mãe. Devi tem dificuldade para cicatrizar suas feridas enquanto tenta viver experiências de um amor adolescente. Em paralelo, também acompanhamos a vida de jovens que estão se descobrindo LGBTQI+, jovens que lidam com a solidão, abandono e o amor, o verdadeiro amor. Apesar de todo enredo, a série é bem humorada e leve, dá para maratonar em um único dia. Trailer: https://youtu.be/HyOCCCbxwMQ

4 - Bem-vindo a Marly-Gomont: as pessoas precisam falar mais sobre esse filme, sério! Baseado em uma história real, Bem-vindo a Marly-Gomont nos traz de volta a vida de Seyolo Zantoko, um médico negro, natural de Kinshasa, no Congo. Após se formar na França, seu pesadelo é ter que voltar ao seu país de origem, pois era governado pelo regime autoritário de General Mobutu. E então, numa noite de comemoração, Syolo recebe uma proposta de emprego: ser médico em uma pequena cidade rural, no interior da França, chamada Marly-Gomont. A população de lá nunca tinha recebido pessoas negras, muito menos um médico, por isso, o maior desafio da família Zantoko será quebrar o preconceito e ganhar a confiança dos pacientes. Bem-vindo a Marly-Gomont é um filme leve e bem desenvolvido, não se aprofunda nas pautas sociais, mas cumpre com aquilo que promete. Confira o trailer: 


Bruna Domingos
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Superman: A Humanidade e Escolhas de Um Herói


Toda vez em que se pergunta para alguma pessoa seu super-herói favorito, uma disputa por personagem mais forte sempre surge. O que sempre surge também é que poucas vezes alguém realmente responde que sente alguma empatia, ou que realmente goste do Superman sem contar seus poderes, aliás, seus poderes sempre parece ser a fonte de muitos embates em fóruns sobre como ele é super poderoso e se torna chato exatamente por isso.

Superman é um herói sem "fraquezas", aliás, muitas histórias tornam seus poderes tão extraordinários que ele pode até mover planetas e de certa forma se tornar invencível.

Enquanto a animação da Liga da Justiça Sem Limites usou sua batalha contra Darkseid (inclusive uma cena repetida em várias redes sociais para representar a extensão do poder do herói) para mostrar seu lado humano. Ao viver entre humanos, Superman sempre está com medo de quebrar coisas, machucar pessoas.

Superman: As Quatro Estações

Voltando em histórias como o clássico Superman: As Quatro Estações, acompanhamos o amadurecimento do herói através das estações e do ponto de vista de diferentes pessoas em sua vida, iniciando com seu pai Jonathan Kent na primavera, o florescer de seus poderes e a preocupação de seu pai. O verão é narrado por Lois Lane que, enquanto todos sentem esperança em ver um novo herói despertar no mundo, ela está a questionar porque alguém tão poderoso decidiria ajudar os outros sem nada em troca.

Outono, enquanto as folhas caem e talvez tudo se torne meio sombrio, Lex Luthor mostra como Superman representa um perigo fora de controle. Enfim, o Inverno chega para Lana Lang vendo seu sonho de se casar com Clark sendo uma coisa menor dentro da missão de esperança que O Homem de Aço representa.

Muitas histórias estão sempre focando muito no poder do Homem de Aço ou quanto a kryptonita pode representar sua fraqueza. Indo mais fundo na construção desse personagem em suas inúmeras versões e ponto de vista de escritores, talvez a maior fraqueza do Superman não seja realmente ser alguém com poderes que não conseguimos controlar. Sua maior fraqueza é simples: se importar, ou melhor dizendo, sua humanidade.

E ele é um alienígena.

Superman é um personagem que se entrega, se doa ao próximo e nem todas essas ações estão ligadas ao seu poder. O ato dele decidir proteger pessoas em um planeta que não é dele, a maneira como ele sempre está sendo heroico mesmo quando é Clark Kent.

O que define um herói? O que nos define como humanos?

A internet está lotada de videos, pesquisa e artigos completos com muito mais informações que eu talvez pudesse escrever por aqui. Partindo de uma perspectiva pessoal, olhando para o mundo é fácil de ter pensamentos sombrios de como as mudanças que precisam ser feitas pode nunca acontecer, de como certas coisas nunca irão mudar e aceitar as coisas como elas são, mas também é fácil de perceber que estamos todos com o desejo de uma mudança para um mundo melhor.

O desejo existe, as ações nem sempre. Enquanto ainda temos a internet com inúmeras brigas, subindo hashtags, discutindo o que se pode ser feito, a ação realmente não acontece e é isso a luz que Superman representa.

Ele não é apenas um desejo. Ele é uma realização.

Seus poderes que o tornam quase um semi-deus o tornaram consciente da sua humanidade, quando ele decidiu não ser expectador, mas fazer ações em um mundo em caos pelo bem desse mundo, ele exprimiu o desejo máximo nosso como humanidade.

Clark Kent é um homem que ao escrever para um jornal escolheu a missão da verdade, como homem ele escolheu esse papel fundamental para ajudar. Ao amar a Lois como sua parceira, ele aprendeu e ensinou sobre amor e apoio.

Essas coisas ele escolheu como homem.

Tratar todas as pessoas com igualdade, dignidade e respeito. Levantar, lutar, mesmo quando ele pode morrer para deixar a paz no mundo.

Essas coisas ele escolheu como herói.



Vanessa de Oliveira
Instagram: @nessagsr