Autora: Carolina Maria de Jesus
Editora Ática
Páginas: 199
“E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome”
Publicado em agosto de 1960, Quarto de Despejo chegou ao meu conhecimento através das acadêmicas e ativistas que comecei a seguir aqui na internet. Carolina era uma mulher negra, favelada e catadora de papel que tinha como refúgio os livros e o seu diário.
Todos os dias Carolina acordava e não sabia se iria comer e alimentar os seus filhos, ela morava na extinta favela do Canindé, em São Paulo e o seu sustento era catar papel, ferro e lixo. A rotina era assim de domingo a domingo, a infelicidade de morar em um lugar sem condição humana era relatada de forma dura e objetiva em seus manuscritos.
“Eu classifico São Paulo assim: O palácio é a sala de visita. A prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos”
Carolina Maria nasceu em Sacramento (MG), foi para São Paulo e começou a trabalhar como podia para sobreviver. Quem a descobriu foi o jornalista Audálio Dantas, que na intenção de fazer uma reportagem na favela, acabou conhecendo os seus diários. Impressionado com a potência, Audálio mostrou os textos para o seu editor e assim seguiu para a publicação. A escrita se manteve original e os erros gramaticais não são um incômodo, muito pelo contrário, manter a originalidade tornou o livro uma ferramenta de denúncia da realidade do brasileiro marginalizado na década de 1950.
Em muitos momentos a rotina de Carolina era a mesma: acordar as 5h, buscar água, ouvir as mulheres conversando sobre os acontecimentos da comunidade, fazer um café (quando tinha) e sair para catar papel, ferro e reciclagem, sempre com a incerteza de ter dinheiro para comprar comida. Mas além de toda essa rotina, Carolina tinha opiniões fortes sobre a política e os moradores do Canindé. Era nítido como ela se incomodava com o comportamento dos favelados, com os políticos e a hipocrisia da sociedade. A violência, a miséria e a fome são personagens principais nesta história.
“O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora”

“Duro é o pão que nós comemos. Dura é a cama que dormimos. Dura é a vida do favelado”
Quarto de Despejo vendeu milhares de cópias e chamou a atenção de diversos países, sendo traduzido para 13 línguas, além de ser objeto de estudos culturais e sociais até hoje.
Este livro causou em mim muitas reflexões e só confirmou o que já sabíamos: o Brasil sempre foi um país de alta desigualdade social. Nunca tivemos bons momentos, os ricos sim, mas os pobres e negros, não. O olhar de Carolina abriu a minha mente para o que me cerca e me fez entender que existe um abismo enorme entre ser pobre e estar na miséria. Este livro não é confortável de ler, não é feliz e muito menos leve, é a mais dura realidade do cidadão marginalizado e sua eterna busca por uma vida melhor em um lugar onde o rico fica mais rico e o pobre fica mais pobre.
Bruna Domingos
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