Hoje, 20 de novembro, celebramos o Dia da Consciência Negra, uma data que faz referência a morte de um dos lÃderes mais importantes na história do Brasil, Zumbi dos Palmares. Ele lutou por muitos anos contra a escravidão e protegia o seu povo de fazendeiros escravistas. A importância dessa data vai muito além de parabenizar o amigo negro pelo seu dia, mas ela nos lembra de resistência e que a luta ainda não acabou. Infelizmente, no século XXI ainda temos que lidar com o racismo, crime inafiançável.
Esta data é para lembrar dos nossos antepassados e que a luta deles não foi em vão, ainda estamos aqui, tentando sobreviver em meio ao genocÃdio cometido pelo Estado, em meio a marginalização e exclusão do povo negro. Ainda estamos aqui tentando lutar contra o racismo velado que se expressa através de um olhar, de uma piada e da falta de oportunidade. Ainda estamos aqui, resistindo.
Eu como mulher negra e com amigos negros, não poderia deixar de lembrar que resistimos, não só no dia a dia, mas também através da cultura, e principalmente, através da literatura.
Quantos autores negros você leu este ano? Quantas mulheres negras que escrevem você prestigiou este ano? Quero deixar aqui algumas das minhas leituras de 2019 que refletiram muito na minha consciência como mulher negra. Portanto hoje, eu gostaria de deixar apenas um recado: leia mulheres, leia mulheres negras!
1 - Talvez precisemos de um nome para isso – Stephanie Borges
O imaginário estético da sociedade como forma de opressão da mulher negra, é o fio condutor do poema de Stephanie Borges, perpassado por narrativas sagradas, memórias pessoais, trechos de músicas e crÃticas ao que chama de "eufemismo do mercado". O longo poema é dividido em dez partes, para além do lirismo convencional, com uma linguagem cortante e direta. A autora transcende o debate sobre beleza e identidade, mergulha no já banalizado tema do empoderamento feminino negro, e propõe à s mulheres uma autoanálise sobre a construção da própria imagem.
2 - Quem tem medo do feminismo negro? – Djamila Ribeiro
Um livro essencial e urgente, pois enquanto mulheres negras seguirem sendo alvo de constantes ataques, a humanidade toda corre perigo. Quem tem medo do feminismo negro? reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. No texto de abertura, a filósofa e militante recupera memórias de seus anos de infância e adolescência para discutir o que chama de "silenciamento", processo de apagamento da personalidade por que passou e que é um dos muitos resultados perniciosos da discriminação. Foi apenas no final da adolescência, ao trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, que Djamila entrou em contato com autoras que a fizeram ter orgulho de suas raÃzes e não mais querer se manter invisÃvel. Desde então, o diálogo com autoras como Chimamanda Ngozi Adichie, bell hooks, Sueli Carneiro, Alice Walker, Toni Morrison e Conceição Evaristo é uma constante. Muitos textos reagem a situações do cotidiano — o aumento da intolerância à s religiões de matriz africana; os ataques a celebridades como Maju ou Serena Williams – a partir das quais Djamila destrincha conceitos como empoderamento feminino ou interseccionalidade. Ela também aborda temas como os limites da mobilização nas redes sociais, as polÃticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil, além de discutir a obra de autoras de referência para o feminismo, como Simone de Beauvoir.

3 - Sejamos Todos Feministas – Chimamanda Ngozi Adichie
"Provavelmente o livro mais importante do ano." The Telegraph "Peco-vos que sonhem e planeiem um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens e mulheres mais felizes, mais fieis a si mesmos. E e assim que devemos comecar: precisamos de criar as nossas filhas de uma maneira diferente. Tambem precisamos de criar os nossos filhos de uma maneira diferente." O que e que o feminismo significa hoje em dia? Neste ensaio pessoal - adaptado de uma conferencia TED - Chimamanda Ngozi Adichie apresenta uma definic?o unica do feminismo no seculo XXI. A escritora parte da sua experiencia pessoal para defender a inclus?o e a consciencia nesta admiravel explorac?o sobre o que significa ser mulher nos dias de hoje. Um desafio lancado a mulheres e homens, porque todos devemos ser feministas.
4 - As Lendas de Dandara – Jarid Arraes
Na sociedade do perÃodo do açúcar, a casa-grande era a residência do senhor de engenho. Seu conforto contrastava de modo gritante com a miséria e as péssimas condições de higiene das senzalas, onde moravam os escravos. O tratamento dado a eles era cruel, envolvendo castigos sangrentos, ataques sexuais e dolorosas explorações fÃsicas e mentais. Afinal, eles não passavam de semoventes - criaturas que se moviam por si, como os cavalos, as vacas e os cachorros da fazenda. E que podiam ser vendidos, trocados, emprestados ou doados, como qualquer outro animal na posse do senhor branco. É contra essa estrutura odiosa que se ergue Dandara dos Palmares, guerreira e companheira de Zumbi, que luta à frente das formações de palmarinos dispostos a reconquistar a liberdade de a dignidade para si e para seus irmãos escravizados. "As lendas de Dandara" é um romance que busca preencher lacunas de uma história do Brasil que nunca foi bem contada.

5 - Quarto de Despejo – diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus
Resenha em breve
O livro reproduz o diário de Carolina de Jesus, em que ela narra o seu dia a dia nas comunidades pobres da cidade de São Paulo. Em seu relato, ela descreve a dor, o sofrimento, a fome e as angústias dos favelados. Seu texto é considerado um dos marcos da escrita feminina no Brasil.
6 - O ódio que você semeia - Angie Thomas
1º lugar na lista do New York Times. Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro contra o racismo em tempos tão cruéis e extremos Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explÃcita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polÃcia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu inÃcio. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa. Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.
Bruna Domingos