TÃtulo: Talvez precisemos de um nome para isso
Autora: Stephanie Borges
Cepe Editora
Páginas: 79
Pela primeira vez me senti parte de um poema, entenda, não é simplesmente me identificar. Eu sentei, abri o livro e a Stephanie Borges conversou comigo.
Veio à tona o processo para deixar a raiz do meu cabelo crescer, o meu pós-corte, as lembranças da minha adolescência, onde a ideia de “cabelo liso é mais bonito” sempre foi reforçada com mensagens diretas e indiretas. Eu não me lembro quando exatamente eu decidi deixar meu cabelo mais liso, mas lembro exatamente quando decidi parar.
É perceptÃvel, durante a leitura, o quanto as memórias da autora foram fundamentais, como cada detalhe e referência se tornam um ponto importante para entender o sentido do poema. Para mim, reforçou a ideia de que nosso lugar de origem é importante para definir quem queremos ser ou quem somos. Eu nunca quis ser alisada de verdade, meus cachos sempre foram motivos de orgulho e até elogiados, mas de repente eu estava sentada em uma cadeira e tinha alguém me orientando sobre como devo manter meus fios soltos e hidratados, mas principalmente mais lisos.
"e como não se repara a intimidade forçada
de um estranho nunca antes e
te enfia os dedos e lava e pergunta
de onde você é, o que usou aqui
conselhos nunca pedidos, você
deveria, é melhor
tentar isso, é novo, é ótimo...”
Também destaco a constante busca por mudar, ficar bela aos olhos dos outros, se adequar. Mas até onde devemos nos adequar? E temos? Há um sofrimento por trás da busca pelo ideal aceito como padrão na sociedade. A autora brinca com as palavras e nos mostra o quanto isso deixa marcas, marcas que não desaparecem, mas que substanciam a ideia de que nunca vamos ser suficientes até que possamos entrar na linha do que é aceito.
“a dor aceitável e a ideia de que nunca
é suficiente, sempre outra e mais
e mais
até realizar
com sucesso o truque
da desaparição
em plena vista”
Queremos uma representatividade real e precisamos entender a necessidade de nos compreender para compreender nosso corpo e nos apossar. Sempre tentaram apagar o significado verdadeiro de Black Power, isso exige muito das mulheres, sempre ter que parecer perfeita para "aliviar" os olhos de quem nos enxerga. “Vamos diminuir um pouco esse volume”, eu não quero diminuir o volume.
“os cabelos guardam
histórias de origens
as passagens do tempo
todo fio
contém vestÃgios
e carrega desde o princÃpio
a iminência de sua
queda”
Este é o poema de quem parte. É você, eu, ela, nós. Todas nós.
Bruna Domingos
Instagram: @brunadominngos